65% dos professores de educação infantil não têm especialização

Da Redação

Estudo mostra que apesar de a maioria dos professores das redes pública e conveniada da educação infantil – que recebe crianças de 4 meses a 6 anos – ser formada em pedagogia, 65% dos professores que atuam nessa área não tem nenhuma qualificação para trabalhar com crianças da faixa etária atendida. Além disso, os auxiliares – também chamados de assistentes, cuidadores e recreacionistas – têm concluído, em geral, apenas o ensino médio. O problema é que em muitos momentos, o auxiliar fica sozinho com a turma, sem ter qualquer tipo de formação ou planejamento para trabalhar com os pequenos.

A pesquisa “A gestão da educação infantil no Brasil” foi feita com o propósito de entender o cenário dessa fase educacional, que tem matriculados 18,4% dos brasileirinhos de até 3 anos e 80% das crianças de 4 a 6 anos Além do déficit de qualificação específica para a área nos professores, apenas 19% dos diretores fizeram pós-graduação em educação infantil nas unidades municipais e 42% nas conveniadas. O levantamento revelou que, em muitos casos, a figura do diretor nem sempre existe na educação infantil.

E nas escolas onde o gestor existe, muitas vezes, a educação infantil não recebe a devida atenção do profissional, por coexistir com outras etapas de ensino. “O ideal é que cada creche e pré-escola tenham um gestor presente que olhe e responda por tudo o que lá acontece. Para tanto, é preciso que as redes, além de criar o cargo, definam com clareza as responsabilidades e ofereçam meios democráticos de seleção e formação específica desses profissionais, bem como o acompanhamento desta última”, comenta Angela Dannemann, diretora-executiva da Fundação Victor Civita, órgão que, em parceria com a Fundação Carlos Chagas (FCC), desenvolveu o estudo.

“As vivências que acontecem nos primeiros anos de vida são marcantes para o desenvolvimento integral da criança, portanto, os adultos responsáveis por educar crianças de até seis anos em creches e pré-escolas deveriam ser muito bem formados”, afirma Angela Dannemann. “A eles cabe promover ações com a finalidade de ampliar o conhecimento das crianças de si e do mundo, facilitar o acesso a diferentes linguagens e a aquisição de autonomia para participar de atividades individuais e coletivas”, explica.

A professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e Ph.D. em educação infantil Maria de Fátima Guerra de Sousa explica que a baixa especialização acontece porque no Brasil a educação infantil só começou a ser valorizada há pouco tempo. De acordo com ela, existem poucas oportunidades para aqueles que têm interesse na área. Segundo a especialista, a criança pequena é diferente da d o ensino fundamental . “ Existem necessidades específicas que precisam ser supridas”, afirma. Para a professora, uma educação infantil problemática e sem qualidade, além de ser ruim no sentido amplo, pode prejudicar o desenvolvimento da criança. Ela explica que os pequenos têm muitas particularidades e necessidades que exigem um profissional qualificado.

Maria de Fátima dá um exemplo: “o professor da educação infantil tem que entender a importância do brincar.Geralmente, eles trabalham o “brincar” como recompensa .Quando, na verdade, esse tipo de atividade é um eixo muito importante para o desenvolvimento e formação da criança . Não como um agrado, mas como atividade essencial”. A especialista conta que existem muitos aspectos na formação da criança que o educador precisa saber.

A professora do Centro Educacional Católica de Brasília Maria Darla Mota revela que quando decidiu fazer especialização em educação infantil as pessoas falavam que seria uma perda de tempo. Hoje, ela reconhece a importância: “é extremamente necessário que o profissional entenda o processo de formação e de crescimento da criança, para trabalhar com qualidade”. Ela dá aula para o Jardim 1 e também para alunos de ensino fundamental e diz que há diferenças fundamentais na metodologia aplicada em sala de aula.

De acordo com a pedagoga, a educação infantil é onde as crianças têm o primeiro contato umas com as outras e com o mundo, longe dos pais. “ O professor tem que estar preparado para recebê-las e orientá-las”, declara. Maria Darla alerta também paro a fato de que a formação recebida nesse período repercutirá no futuro e de que esse é o período em que as crianças têm maior capacidade de aprendizagem. “Uma criança que recebeu uma boa base nas primeiras fases, vai ter mais facilidade nas séries futuras”, conclui.

Os objetivos da pesquisa são: caracterizar as políticas de gestão e o perfil dos gestores escolares da educação infantil nas redes de ensino; identificar os mecanismos de gestão das unidades de educação infantil associados à qualidade dos serviços oferecidos pelas instituições; investigar as relações entre indicadores de gestão e indicadores com estimativas de qualidade das instituições.

Para realizar o estudo, a FVC analisou 180 escolas públicas e conveniadas de seis capitais brasileiras. Os pesquisadores também realizaram entrevistas com técnicos das secretarias estaduais de educação, gestores e membros das comunidades sobre diversos temas, como: políticas municipais da área, formação do diretor e modelos de gestão escolar. Após es se processo ser finalizado, os pesquisadores também observaram o cotidiano de quatro escolas.

O levantamento também revelou que, em muitos casos, a figura do diretor nem sempre existe na Educação Infantil.Já, nas escolas onde o gestor existe, muitas vezes a Educação Infantil não recebe a devida atenção do profissional, por coexistir com outras etapas de ensino. Outro fator relevante apontado pelo estudo é que em nenhum dos munícipios pesquisados os diretores eram concursados: sendo que pouco mais de 10% haviam assumido o cargo por indicação e 46% assumiram por meio de eleição. “O ideal é que cada creche e pré-escola tenha um gestor presente que olhe e responda por tudo o que lá acontece. Para tanto, é preciso que as redes, além de criar o cargo, definam com clareza as responsabilidades e ofereçam meios democráticos de seleção e formação específica desses profissionais, bem como o acompanhamento desta última”, comenta Angela.

Sem especialidade
O diretor do Jardim de Infância da 102 Sul de Brasília, Francisco Viana, trabalha com educação infantil há 7 anos e tem especialização em psicopedagogia, mas afirma que ainda não teve oportunidade de fazer uma pós em educação infantil. Ele conta que, na escola onde trabalha, é uma minoria de professores que tem especialização na área. O diretor reconhece a importância, mas diz que existem outros aspectos a ser considerados, como um perfil para a profissão. Ele já teve problemas com pessoas que não se identificavam muito e conta que, para contornar a situação, a coordenação é essencial: “ é ela que ajuda e orienta o trabalho”.

A coordenadora da Escola Arara Azul da Unidade de Águas Claras também reconhece a importância da especialização. A escola, que atende crianças com até 2 anos, trabalha com monitoras que são estagiárias do curso de pedagogia. Para suprir a falta de especialização, o colégio ministra para todos os funcionários um curso de formação continuada, semanalmente, com 30 minutos de duração. No curso, eles aprendem a rotina da escola, os cuidados especiais com as crianças, formas de tratamento e de ensino voltadas para os pequenos.

A pesquisa completa pode ser acessada pelo link: http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/2011/pdf/relatoriofinaleducacaoinfantil.pdf

FONTE: Correio Braziliense

Vídeo mais recente:

error: Conteúdo protegido para cópia.
Menu e Busca