POR VI O MUNDO, 11/07/2021
Por Eliara Santana*
Eu não gosto de futebol. Nunca fui muito ligada, não entendo, não tenho time (apenas não gosto de alguns mais antipáticos).
Gosto do Corinthians por causa de Lula, torcia nas Copas do Mundo
muito mais por questão política e pelos encontros festivos do que pela
paixão por futebol; enfim, sou uma negação em termos esportivos.
Dado esse histórico, descobri somente ontem à noite, bem tarde, que
tinha sido a final da cova, digo, Copa América. E descobri que o Brasil
tinha perdido. Para a Argentina. No Maracanã. E que boa parte dos
brasileiros torceram pela seleção arqui-inimiga.
Desde 2015 eu só consigo associar a camisa verde-amarela aos patos da
Fiesp. Às dancinhas ridículas nas ruas. Ao ódio aventureiro que eles
disseminavam.
Associo a camisa verde-amarela ao “nós x eles” construído
simbolicamente pela mídia – em que brasileiros eram apenas os de
verde-amarelo, os que odiavam os petralhas e colocavam no vermelho
petista a culpa por todas as mazelas do Brasil.
Associo a camisa verde-amarela aos ignorantes ricos e idiotas, que
tiveram boas oportunidades de alisar banco de escola mas que, mesmo
assim, diziam acreditar em ameaça comunista no Brasil.
Associo a camisa verde-amarela da seleção aos amantes de Sérgio Moro e
Deltan Dallagnol, o ex-juiz picareta e desonesto que armou para tirar
Lula da eleição e se tornou ministro do adversário e seu procurador
aliado da imprensa.
Associo a camisa verde-amarela aos defensores de toda a
arbitrariedade cometida pela Lava Jato e àqueles que foram protestar na
porta do hospital onde estava internada, com câncer, a mulher do
ex-ministro Guido Mantega.
Associo a camisa verde-amarela às vovós com cartazes dizendo que a
ditadura matou pouco no Brasil e devia ter matado mais, desejando a
morte de Dilma Rousseff.
Associo a camisa verde-amarela aos médicos que foram para o aeroporto
de Fortaleza xingar ostensivamente os médicos cubanos que chegavam ao
país.
Associo a camisa verde-amarela a todos aqueles que comemoraram o AVC de dona Marisa Letícia e vazaram seus exames – e foram muitos, em muitos grupos de zap das famílias de bem.
Enfim, como não entendo patavinas de futebol e acho Neymar um idiota
aproveitador chorão quando é conveniente, meu problema com a seleção
brasileira e a camisa verde-amarela fica no âmbito político mesmo.
Então, é desse campo que vou dar aqui meus pitacos sobre a derrota
interessante de ontem. Interessante porque é simbólica, muito simbólica.
No Brasil, não podemos atualmente falar que o mar da história é agitado. Na verdade, ele é um tsunami, um após outro.
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E assim, os patos da Fiesp viram seus mitos ruírem um a um. Logo estarão queimando a camisa amarelinha como fizeram em praça pública com as bandeiras do PT.
Ontem, uma grande parte dos brasileiros – certamente, muitos dos que já usaram com vigor a camisa verde-amarela – torceu pela seleção da Argentina, contra o Brasil, na final da Copa américa, no Maracanã.
E isso de fato sepulta aquela construção simbólica dos patos contra a corrupção.
A derrota do Brasil pela Argentina na Copa América de Jair Bolsonaro
afundado em denúncias teve um gostinho muito bom, lavou a alma de quem,
como eu, sofreu muito ao ver um estádio inteiro de vips (articulado por
um certo apresentador oportunista) mandando a presidenta do país tomar
naquele lugar na abertura da Copa do Mundo de 2014, silenciando o feito
maravilhoso do neurocientista Miguel Nicolelis mostrado no estádio. Foi
um vexame.
E agora, a torcida dos brasileiros – vermelhos, amarelos e baianos –
contra a seleção brasileira marca a destruição completa daquele reino
dos patos da Fiesp, com os mitos sendo todos desnudados. Nós, os
vermelhinhos, já sabíamos disso tudo. E tentamos avisar…
No mais, parabéns à seleção argentina de Messi, Cristina Kirchner e Alberto Fernández.
*Eliara Santana é jornalista e doutora em Linguística pela PUC/MG.