PROFESSORES DO RIO SOB AMEAÇA

AUSÊNCIA DE ESTRUTURA FAMILIAR PODE JUSTIFICAR AS RECENTES AGRESSÕES CONTRA PROFISSIONAIS
Repúblico matéria do Jornal do Brasil, Cidade, 12/04/2010
Thiago Feres

Professores e especialistas acreditam que problemas familiares encarados por crianças podem refletir diretamente no comportamento agressivo e violento verificado em algumas escolas do Rio. Nos últimos anos, o afastamento psiquiátrico vem liderando o ranking das causas que provocaram o licenciamento de profissionais das salas de aula no estado, segundo dados do Sindicato dos Profissionais de Ensino (Sepe). O trauma de ser agredido por algum aluno, seja de forma verbal ou física, está gerando uma série de debates e palestras entre os professores e educadores.

– O problema é que a principal fonte de educação deve vir dos pais e da família, não da escola.

As crianças foram se tornando cada vez mais mal educadas e era previsível que isso chegasse até esse estágio crítico de hoje. Já digo que os alunos agrediriam os educadores há uns 10 anos – afirma Enéas Oliveira, professor de educação física do Colégio Pedro II.

O último caso de violência ocorrido na cidade ganhou destaque na última semana, mas ocorreu no final de março, quando uma professora – não identificada – da Escola Municipal General Humberto de Souza Mello, localizada em Vila Isabel (Zona Norte), teria sido xingada e agredida por alunos e moradores do Morro da Mangueira.

Na 20ª DP (Vila Isabel), ela negou que tenha apanhado, mas confirmou as ofensas.

Para o Sepe, as escolas da região metropolitana do Rio concentram os casos mais graves.

Somente na capital, existem mais de 200 unidades de ensino situadas em áreas consideradas de risco, o que facilita a maior incidência da agressividade dentro das salas.

– A violência dentro dos colégios se divide de acordo com a região da cidade – destaca a coordenadora do Sepe, Maria Beatriz Lugão. – Na Zona Sul, por exemplo, não temos muitas ações contra o professor, mas temos homofobia, preconceito e outros tipos de agressividade.

Em áreas de miséria ou próximas das favelas dominadas pelo tráfico flagramos os alunos brincando com pedaços de madeira imitando armas. É uma reprodução da violência que, em determinado momento, chega até o professor.

O psicólogo Luiz Alberto Py acredita que a explicação pode estar na evolução da forma de criação adotada por pais e pelos próprios professores.

– Tudo é feito com mais liberdade nos dias de hoje – opina.

– A criança é menos reprimida, o que até certo ponto não é ruim. Aquela repressão de antigamente não fazia bem. Mas existem dois lados na moeda.

Por exemplo, hoje em dia até roupa a criança escolhe. A estrutura familiar também sofreu mudanças ao longo dos anos.

O Sepe prepara um dossiê com diversos casos de agressões contra educadores nas escolas do Rio. Recentemente, a Secretaria Municipal de Educação autorizou a nomeação de 300 novos agentes educadores que estão sendo encaminhados aos colégios da rede municipal para auxiliar no controle dos alunos.

Cerca de 200 escolas estão situadas em áreas de risco somente na capital do Rio

Segundo a coordenadora do Sepe, Maria Beatriz Lugão, ao longo dos últimos anos ela perdeu as contas de quantos casos de agressão contra profissionais do ensino presenciou.

No entanto, o mais marcante para ela foi a confecção de um artefato explosivo por parte dos alunos que foi encontrado no material de uma professora de São Gonçalo.

– Ela sempre foi uma profissional excelente e extremamente dedicada, mesmo assim, encontraram uma bomba de fabricação caseira no meio das provas e diários dela. Uma mãe de um aluno também apresentou queixa contra ela no Juizado de Menores, depois da reprovação do seu filho. Essa mãe era beneficiada pelo programa federal Bolsa Família, onde uma das exigências é que a criança não seja reprovada – contou a coordenadora do Sepe.

A falta de profissionais nas escolas é outro agravante para a atual situação. Em algumas unidades de ensino, principalmente nas que estão localizadas em áreas de risco, o tempo ocioso acaba sendo fundamental para que os jovens elaborem ações de violência contra os professores. Atualmente, o déficit de educadores chega a 18 mil profissionais na rede estadual de ensino.

– As escolas estão recebendo alunos que precisam de alguma atenção diferenciada e não conseguem ser eficientes. O ambiente sem estrutura se torna ainda mais estressante para os profissionais. Nós batemos sempre nesta mesma tecla: escola nenhuma funciona sem professores nas salas de aula – destaca Maria Beatriz Lugão.

Profissionais lembram ainda que as recomendações de equipes de psicopedagogas dos colégios atrapalham o trabalho de alguns deles.

– Muitas vezes, eles orientam os professores para ter cuidado com possíveis traumas. Parece que tudo vai traumatizar a criança.

Assim, vai se permitindo muito coisa, vira uma permissividade – analisa a ex-professora de educação física do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de JaMEDO – Abalos psiquiátricos são as maiores causas de afastamentos neiro, Mary Oliveira.

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