Quase invisíveis

ARTISTAS PLÁSTICOS “QUASE INVISÍVEIS” SOFREM PARA SOBREVIVER DA ARTE EM NATAL

Artistas plásticos “quase invisíveis” sofrem para sobreviver da arte em Natal
“Não tenho nada porque não aprendi a somar”, diz Assis Marinho. Não ter uma moradia ou um lugar fixo para desenvolver sua arte é o menor dos males para o artista plástico. Quando diz não saber somar, ele espera demonstrar um sentimento de desapego ao valor material dos desenhos desenvolvidos há 45 anos, mas nas entrelinhas da frase está o pensamento de quem se sente “invisível” para a sociedade, mesmo tendo quadros vistos além das fronteiras do centro da cidade, onde passa boa parte do tempo.

Por quanto suas obras são vendidas? Nem ele sabe, e espera somente a receptividade e o aplauso silencioso de quem adquirir os desenhos rabiscados com giz de cera. Vindo direto de Cubati, na Paraíba, para o interior do Rio Grande do Norte, Assis diz que só tem compromisso com a arte. Vende os quadros para algumas grandes galerias da cidade, e o que lhe pagam é o suficiente para viver. “Tenho mais de 11 mil trabalhos espalhados pelo mundo”, declara Assis, orgulhoso do seu dom,de ter começado sua trajetória aos cinco anos, desenhando lá em São João do Sabugi.

Aos nove anos, fugiu de casa e veio para a capital, morar na rua e desenhar as pessoas que passavam na Praia dos Artistas. “Acho que começei bem, na década de 70 desenhei Roberto Carlos”, lembra. Sem querer revelar por quanto cada quadro é vendido as galerias, indiretamente ele afirma que o preço não é muito alto. “A gente faz isso porque não tem muitas opções. O governo não incentiva, não desenvolve a arte nas escolas, não há qualquer contribuição”, relata.

É batendo de porta em porta que Assis diz que gosta – ou encontrou essa saída – de vender o que expressa através da arte. Muito embora tenha obras expostas em galerias, a procura quase nunca é espontânea. O reconhecimento do grande público é para ele algo surreal. Não que seja de menos valia, mas no universo artístico a que pertence, a fama é para poucos.

Assis Marinho veio para São João do Sabugi aos cinco anos de idade, junto com seu pai, Walfredo Marinho, e o restante da familia. “Eu sou um retirante da seca. O jumento que trazia a gente para cá foi vendido no meio do caminho”, assim ele se define e justifica sua arte sacra, que apenas retrata algumas das mazelas vivida por ele. Seu pai fazia santos de madeira e barro para vender nas feiras do interior, sua mãe cuidava da casa e da roça e ele pedia esmolas na rua para ajudar em casa e até vendia água que retirava do rio de porta em porta.

“Não me envegonho, nunca roubei, apesar de todas as dificuldades”, assume. Hoje, Assis Marinho está presente no Dicionário das Artes Plásticas no Rio Grande do Norte, escrito por Dorian Gray Caldas. Tem 11 mil obras realizadas, dentro e fora do país. E com tudo isso, alguém ainda deve se perguntar que ele é.
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Outro exemplo

Edvaldo Correia está junto na profissão e nas dificuldades diárias passadas por Assis. Natural de Recife, capital pernambucana, e pintor de quadros há 10 anos, ele vende de dois a quatro trabalhos por mês, e o mais caro sai geralmente a R$ 250. “É muito difícil vender sozinho. Por isso, precisamos negociar com as galerias”, acrescenta, compartilhando o discurso do amigo. Com 35 anos de idade, Edvaldo não almeja ser famoso, não se importa em pintar na rua, como faz atualmente, ou em qualquer outro lugar. Só não quer se sentir usado.

Por Maiara Felipe, especial para o Diário de Natal

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